São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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MEDICINA

Circuito desenvolvido na universidade misturou células com componente eletrônico e poderia ajudar tetraplégicos

Físicos da USP criam neurônio artificial

 REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ciência ainda deve apanhar muito para conseguir juntar dispositivos eletrônicos com o complicado sistema nervoso humano. Mas pesquisadores do Instituto de Física da USP deram um passo importante para resolver o problema, ao criar um chip que funciona como um neurônio (célula nervosa) num pequeno circuito.
"Neurônios de silício" como esse não são exatamente uma novidade. Contudo, o chip da USP é muito mais promissor para aproximar essa tecnologia de ficção científica da realidade, já que ele dispensa o batalhão de operações matemáticas necessárias hoje para fazê-los funcionar. Enquanto os chips existentes se baseiam em um modelo matemático de 15 equações, o novo dispositivo usa apenas quatro.
Por enquanto, a técnica só foi testada num minicircuito composto por três neurônios do siri da espécie Callinectes sapidus, típico de estuários. Os neurônios são de um circuito maior, com 30 deles, que controla as contrações do estômago do bicho e empurra o alimento pelo sistema digestivo.
"Essa redezinha neural do siri, além de ser pequena, tem a vantagem de funcionar bem fora dele", conta Reynaldo Daniel Pinto, coordenador do projeto que desenvolveu o chip. "Por isso, ela foi estudada para tentar entender como os neurônios funcionam."
Um desses neurônios age mais ou menos como um marca-passo, emitindo um impulso elétrico a cada segundo, enquanto os outros, quando isolados, têm um comportamento caótico.
O neurônio marca-passo é que mantém as contrações dos músculos, empurrando a comida pelo estômago. A idéia, então, foi retirar neurônios do circuito e criar chips que pudessem ser ajustados para imitar o sistema de marca-passo ou os outros neurônios.
Em laboratório, os neurônios foram unidos ao chip com a ajuda de um eletrodo e a coisa funcionou: quando o chip fazia o papel do marca-passo, ele conseguia induzir os dois neurônios reais a entrar em sincronia.
"Uma possível aplicação disso seria usar o chip para ajudar pessoas tetraplégicas, que às vezes perdem os movimentos involuntários do estômago", afirma o pesquisador da USP.
A longo prazo, o princípio poderia ser utilizado para corrigir outras funções automáticas, como caminhar. "Mas o modelo não é perfeito. Com três células nós conseguimos algo parecido com o sistema vivo, enquanto com quatro o resultado é muito pior", ressalva. O projeto tem financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
 
 

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